Crédito do Trabalhador: vantagens, regras e como solicitar

No Brasil, conseguir crédito com juros baixos nem sempre é fácil, principalmente para quem é trabalhador com carteira assinada e precisa de dinheiro rápido para resolver uma urgência ou organizar as contas. Muitas vezes, a única opção acaba sendo pegar empréstimos caros, como o rotativo do cartão de crédito ou o cheque especial, que cobram taxas altíssimas e viram uma bola de neve em pouco tempo. Foi para mudar esse cenário que surgiu o Crédito do Trabalhador.

Uma nova modalidade de empréstimo consignado pensada especialmente para empregados com carteira assinada, incluindo trabalhadores domésticos, rurais, MEIs com funcionários e até diretores com FGTS. A ideia é oferecer uma forma mais barata e segura de acessar crédito, com parcelas descontadas diretamente do salário e a possibilidade de usar parte do saldo do FGTS como garantia.

Essa linha de crédito já movimentou bilhões de reais e ajudou milhões de pessoas desde o lançamento. Mas, apesar de ter juros bem menores que outras opções, ela não é uma solução mágica. É preciso entender bem como funciona, quais são as regras e, principalmente, como usar de forma estratégica para não transformar um empréstimo barato em uma dívida difícil de pagar.

Nos próximos tópicos, vamos explicar em detalhes quem pode contratar, como funciona, quais são as vantagens e também os cuidados que você deve ter antes de solicitar o seu.

O que é o Crédito do Trabalhador e como ele surgiu

O Crédito do Trabalhador é uma nova modalidade de empréstimo consignado criada pelo governo federal para facilitar o acesso ao crédito de forma mais segura e com juros mais baixos. “Consignado” significa que as parcelas são descontadas diretamente do salário ou da aposentadoria, o que dá mais garantia para o banco ou financeira e, por isso, permite oferecer taxas menores.

Ele foi instituído pela Medida Provisória nº 1.292/2025 e é gerenciado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com apoio da Dataprev e do Serpro, dois órgãos de tecnologia do governo que garantem a segurança e o processamento das informações. A grande inovação desse programa é permitir que trabalhadores com carteira assinada (CLT), incluindo domésticos, rurais, empregados de MEI e até diretores com FGTS, tenham acesso a crédito mais barato, sem depender das linhas comuns com juros altos.

Outro ponto importante é que até 10% do saldo do FGTS pode ser usado como garantia, e em caso de demissão o banco pode utilizar até 100% da multa rescisória para quitar parte da dívida. Isso reduz o risco para a instituição financeira e, em troca, ajuda o trabalhador a pagar menos juros.

O Crédito do Trabalhador também foi pensado para ser simples de contratar: todo o processo acontece de forma digital, usando a Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital). A proposta chega para o trabalhador pelo aplicativo, ele analisa, aceita (se quiser) e pronto, sem filas nem burocracia excessiva.

Crédito do Trabalhador: vantagens, regras e como solicitar

Quem pode acessar e como funciona

O Crédito do Trabalhador foi criado para atender uma grande parte da população que trabalha com carteira assinada, mas que muitas vezes não consegue empréstimos com boas condições nos bancos.

Podem solicitar essa linha de crédito:

  • Trabalhadores CLT – pessoas contratadas com carteira assinada em empresas privadas.
  • Trabalhadores domésticos – cuidadores, faxineiros, babás e outros profissionais com contrato formal.
  • Trabalhadores rurais – empregados com carteira assinada no campo.
  • Empregados de MEI – quem trabalha para microempreendedores individuais com registro formal.
  • Diretores e sócios com FGTS – que constam no sistema como empregados.

O funcionamento é simples:

  1. A instituição financeira envia a proposta para o trabalhador pelo aplicativo Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital).
  2. O trabalhador analisa as condições – valor disponível, taxa de juros, prazo e parcelas.
  3. Se aceitar, autoriza a contratação pelo próprio aplicativo.
  4. As parcelas são descontadas direto do salário, e parte do FGTS pode ser usada como garantia (até 10% do saldo, mais até 100% da multa rescisória em caso de demissão).

O desconto é automático e segue o limite legal: a soma de todos os consignados não pode ultrapassar 35% do salário. Isso evita que a pessoa comprometa toda a renda e garante mais segurança no pagamento.

Na prática, isso significa mais previsibilidade para o trabalhador e menos risco de cair no efeito bola de neve dos juros altos. Mas vale lembrar: mesmo com juros menores, é preciso ter certeza de que a parcela cabe no orçamento antes de fechar o contrato.

Vantagens do Crédito do Trabalhador

O Crédito do Trabalhador foi pensado para ser uma alternativa mais justa e acessível em comparação às modalidades de empréstimo mais comuns. Ele reúne uma série de benefícios que podem ajudar o trabalhador a resolver problemas financeiros ou até organizar melhor o orçamento sem cair em juros abusivos.

1. Juros mais baixos que o mercado

Como as parcelas são descontadas direto do salário e há parte do FGTS como garantia, o risco para o banco é menor. Isso permite oferecer taxas de juros muito mais baixas que as de um empréstimo pessoal tradicional, rotativo do cartão ou cheque especial. Na prática, o trabalhador paga menos pelo mesmo valor emprestado.

2. Pagamento automático e seguro

O desconto das parcelas é feito de forma automática na folha de pagamento. Isso evita esquecimentos e reduz a chance de atrasos, que geram multas e juros extras.

3. Uso do FGTS como garantia

É possível usar até 10% do saldo do FGTS e até 100% da multa rescisória como garantia do empréstimo. Isso aumenta a segurança para o banco e, consequentemente, melhora as condições para o trabalhador.

4. Processo 100% digital

Todo o processo é feito pelo aplicativo Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital). Você recebe a proposta, analisa as condições e aceita (ou recusa) direto no celular, sem precisar ir a agências ou enfrentar filas.

5. Possibilidade de trocar dívidas caras por essa linha

Se você já tem dívidas com juros altos, pode usar o Crédito do Trabalhador para quitá-las. Isso ajuda a reduzir o valor pago no total e facilita o controle das finanças.

6. Limite legal de desconto

O valor total descontado de todos os consignados não pode ultrapassar 35% da sua renda mensal. Isso garante que uma parte do salário continue livre para cobrir as despesas essenciais.

Crédito do Trabalhador: vantagens, regras e como solicitar

Troca de dívidas caras: como usar o Crédito do Trabalhador de forma estratégica

Uma das formas mais inteligentes de aproveitar o Crédito do Trabalhador é usá-lo para substituir dívidas com juros altos por uma única dívida com juros menores e parcelas que caibam no bolso.

Essa estratégia é chamada de portabilidade ou quitação de dívida. Funciona assim: você pega o valor no Crédito do Trabalhador e usa para pagar à vista outra dívida mais cara, como o rotativo do cartão de crédito, cheque especial ou empréstimos pessoais comuns. Ao fazer isso, você elimina os juros abusivos e passa a pagar uma parcela menor e mais previsível.

Por exemplo:

  • Antes: você devia R$ 5.000 no cartão de crédito, pagando juros de mais de 12% ao mês.
  • Depois: quita essa dívida usando o Crédito do Trabalhador, que tem juros muito menores (por exemplo, 2% ao mês) e divide o valor em até 16 meses.

O resultado é que você economiza dinheiro, diminui a pressão no orçamento e ainda organiza melhor os pagamentos.

Mas atenção: essa estratégia só funciona se, depois de quitar a dívida cara, você evitar contrair uma nova dívida do mesmo tipo. Caso contrário, você vai acabar com duas parcelas para pagar e o problema pode voltar a crescer.

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Impacto e alcance do Crédito do Trabalhador

Desde o seu lançamento, o Crédito do Trabalhador tem mostrado um alcance rápido e expressivo. Em pouco tempo, já movimentou bilhões de reais e alcançou milhões de brasileiros que antes dependiam apenas de opções de crédito com juros muito mais altos.

De acordo com dados oficiais, só no primeiro mês de funcionamento:

  • Foram concedidos cerca de R$ 8 bilhões em empréstimos.
  • Mais de 1,4 milhão de contratos foram firmados.
  • O valor médio de cada contrato foi de aproximadamente R$ 5.502.
  • O prazo médio dos empréstimos ficou em 16 meses.

Esses números mostram que existe uma demanda enorme por crédito com condições mais justas, especialmente para quem trabalha com carteira assinada e tem pouco acesso a linhas baratas.

Além disso, o programa também tem ajudado a evitar que trabalhadores recorram a dívidas de alto custo, como o rotativo do cartão ou o cheque especial. Ao oferecer juros menores e pagamento direto na folha, o Crédito do Trabalhador dá mais segurança para quem precisa se financiar, sem deixar de lado a responsabilidade de manter as parcelas dentro do limite legal de 35% da renda.

Aspectos práticos para empregadores

O Crédito do Trabalhador não envolve só o trabalhador e o banco, o empregador também tem um papel importante para que tudo funcione de forma correta e segura.

Quando um funcionário contrata essa modalidade, as parcelas são descontadas diretamente do salário, e a empresa precisa repassar o valor à instituição financeira dentro do prazo. Esse processo é feito por meio de sistemas oficiais, como:

  • eSocial – para registrar as informações trabalhistas e salariais do funcionário.
  • FGTS Digital – para integrar os dados sobre o uso do FGTS como garantia.
  • DET (Domicílio Eletrônico Trabalhista) – onde o empregador recebe notificações sobre contratos e precisa acompanhar prazos e confirmações.

O empregador também é responsável por garantir que a soma de todos os consignados do funcionário não ultrapasse o limite legal de 35% da remuneração mensal. Isso evita que o trabalhador comprometa uma parte excessiva do salário e que a empresa enfrente problemas jurídicos.

Outro ponto importante é que, em caso de rescisão do contrato de trabalho, o empregador precisa fazer os cálculos para que parte da multa rescisória do FGTS (até 100%, se previsto no contrato) seja direcionada para a quitação da dívida.

Para as empresas, participar desse programa pode ser positivo: ajuda os funcionários a terem acesso a crédito mais barato, reduz o risco de endividamento excessivo e pode melhorar o clima organizacional. Mas é fundamental seguir todos os procedimentos técnicos exigidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego para evitar erros no processo.

Proteções ao trabalhador e limites legais

O Crédito do Trabalhador foi criado com regras específicas para evitar que o trabalhador comprometa demais a sua renda e acabe em situação de superendividamento. Essas proteções estão previstas em lei e precisam ser respeitadas por todos os envolvidos: bancos, empregadores e o próprio contratante.

Limite de desconto em folha

A soma de todas as parcelas de consignados não pode ultrapassar 35% do salário líquido do trabalhador. Isso significa que, mesmo que ele tenha margem sobrando no banco, a empresa não poderá autorizar novos contratos que ultrapassem esse percentual. Esse limite é essencial para garantir que parte do salário continue disponível para despesas básicas.

Uso do FGTS como garantia

O programa permite usar até 10% do saldo do FGTS como garantia, além de até 100% da multa rescisória em caso de demissão. Essa garantia ajuda a reduzir juros, mas também significa que, em uma rescisão, parte desse dinheiro será usada para quitar a dívida.

Portabilidade de crédito

Se o trabalhador encontrar um banco oferecendo condições melhores, ele pode portar o contrato para outra instituição sem precisar pagar multa ou taxa por isso. Isso incentiva a busca por juros menores e prazos mais adequados.

Direito à informação

Todas as propostas devem ser apresentadas de forma clara, com taxa de juros, valor total a pagar, quantidade de parcelas e data da última prestação. O trabalhador precisa autorizar digitalmente a contratação pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.

Proteção contra descontos indevidos

O empregador só pode descontar valores autorizados pelo trabalhador e devidamente registrados nos sistemas oficiais. Qualquer cobrança indevida pode ser contestada e, se for o caso, devolvida com correção.

Perguntas frequentes sobre o Crédito do Trabalhador

1. Posso contratar o Crédito do Trabalhador se já tenho outro consignado?

Sim, desde que a soma de todas as parcelas não ultrapasse 35% do seu salário líquido. Esse limite é somado para todos os consignados, independentemente do banco.

2. O que acontece se eu for demitido?

Em caso de demissão, o banco pode usar até 100% da multa rescisória do FGTS para quitar parte ou todo o saldo da dívida. Se ainda sobrar valor para pagar, você precisará negociar um novo prazo ou forma de pagamento diretamente com a instituição.

3. O crédito é liberado para quem está com nome sujo?

Sim. Como as parcelas são descontadas direto do salário e parte do FGTS é usada como garantia, é possível conseguir o Crédito do Trabalhador mesmo com restrições no nome. Mas cada banco pode ter suas próprias políticas de análise.

4. Posso escolher o banco para contratar?

Sim. Você pode receber ofertas de diferentes instituições e escolher a que tiver a menor taxa de juros e condições mais adequadas. É importante comparar sempre antes de fechar.

5. Quanto tempo demora para o dinheiro cair na conta?

Após aceitar a proposta pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital, o prazo costuma ser rápido muitas vezes em até 24 horas úteis, dependendo do banco.

6. Vale a pena usar para quitar dívidas antigas?

Sim, se as dívidas antigas tiverem juros mais altos (como cartão de crédito ou cheque especial). Isso ajuda a reduzir o custo total e facilita o controle das finanças. Mas é importante evitar contrair novas dívidas depois.

7. Existe valor mínimo ou máximo para contratar?

Os valores variam de acordo com o salário, margem consignável disponível e regras de cada instituição. O valor máximo também depende do limite de uso do FGTS como garantia.

Conclusão

O Crédito do Trabalhador é uma iniciativa que pode facilitar muito a vida de quem precisa de dinheiro rápido, mas quer fugir dos juros abusivos das linhas tradicionais de crédito. Com parcelas descontadas direto na folha, uso do FGTS como garantia e taxas bem menores que cartão de crédito ou cheque especial, essa modalidade se torna uma alternativa mais segura e acessível.

Mas, como qualquer empréstimo, ela precisa ser usada com planejamento. Não adianta ter juros baixos se a parcela não cabe no orçamento ou se o dinheiro não for usado para um objetivo claro. Um crédito barato pode rapidamente virar uma dívida pesada se for contratado sem atenção aos prazos, custos e riscos.

Por isso, antes de aceitar qualquer proposta, compare ofertas, entenda o valor total que vai pagar, confira o impacto no seu salário e tenha certeza de que essa dívida vai ajudar e não atrapalhar sua vida financeira.

O Crédito do Trabalhador pode ser um aliado importante para organizar as contas, investir em projetos ou até trocar dívidas caras por uma com juros mais baixos. O segredo está em usá-lo como ferramenta de estratégia, e não como um atalho para cobrir gastos sem planejamento.

Eduardo Sampaio especialista

Eduardo Sampaio aprendeu cedo a importância de organizar o dinheiro. Depois de passar por dificuldades financeiras na juventude, decidiu estudar educação financeira de forma prática e acessível. Ao longo dos anos, ajudou amigos e familiares a sair das dívidas e a encontrar um caminho mais equilibrado nas finanças. Apaixonado por transformar temas complicados em explicações simples, escreve no blog Meu Dinheiro Certo para mostrar que qualquer pessoa pode ter mais controle sobre o próprio bolso. Sua missão é aproximar a educação financeira da vida real, sempre com exemplos claros, dicas práticas e uma linguagem que qualquer pessoa entende.